quarta-feira, 22 de março de 2023

ÁGUA NÃO É MERCADORIA * JORNAL DO BAIRRO/RJ

ÁGUA NÃO É MERCADORIA
JORNAL DO BAIRRO

TEXTO: AGÊNCIA BRASIL

O Cerrado pode perder 33,9% dos fluxos dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. Diante da situação, autoridades e especialistas devem dedicar a mesma atenção que reservam à Amazônia, uma vez que um bioma inexiste sem o outro. O alerta para situação é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona. Nesta terça-feira (22), é celebrado o Dia Mundial da Água, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Salmona mensurou o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto, que resultou em artigo publicado na revista científica internacional Sustainability. A pesquisa contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).

Ao todo, foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado, no período entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas em virtude do avanço da agropecuária.

A pesquisa indica que o cultivo de soja, milho e algodão, assim como a pecuária, têm influenciado o ciclo hidrológico. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

"Quando eu falo de mudança de uso de solo, a gente está, no final das contas, falando de desmatamento e o que você coloca em cima, depois que você desmata", disse Saloma, em entrevista à Agência Brasil. Segundo o pesquisador, o oeste da Bahia é um dos locais onde o cenário tem mais se agravado.

Quanto às consequências climáticas, o pesquisador explica que se acentua a chamada evapotranspiração potencial. Salmona explicou ainda que esse é o estudo com maior amplitude já realizado sobre os rios do Cerrado.

"O que está aumentando é a radiação solar. Está ficando mais quente. Você tem mais incidência, está ficando mais quente e você tem maior evaporação do vapor, da água, e é aí em que a mudança climática está atuando, muito claramente, de forma generalizada, no Cerrado. Em algumas regiões, mais fortes, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia, mas é geral", detalhou.

Chuvas

Outro fator que tem sofrido alterações é o padrão de chuvas. Conforme enfatizou Salmona, o que se observa não é necessariamente um menor nível pluviométrico.

"A gente viu que lugares onde está chovendo menos não é a regra, é a exceção. O que está acontecendo muito é a diminuição dos períodos de chuva. O mesmo volume de água que antes caía em quatro, cinco meses está caindo em dois, três. Com isso, você tem uma menor capacidade de filtrar essa água para um solo profundo e ele ficar disponível em um período seco", comentou.

Uma das razões que explica o efeito de reação em cadeia ao se desmatar o cerrado está no fato de que a vegetação do bioma tem raízes que se parecem com buchas de banho, ou seja, capazes de armazenar água. É isso que permite, nos meses de estiagem, que a água retida no solo vaze pelos rios. Segundo o pesquisador, em torno de 80% a 90% da água dos rios do bioma tem como origem a água subterrânea.


BOLIVIA, LA GUERRA DEL AGUA

Carlos Pronzato

MORTE E VIDA DAS CIDADES * Alexandre Santos - PE

MORTE E VIDA DAS CIDADES
Alexandre Santos - PE


As cidades têm vida e esta vida se traduz através dos movimentos que nelas ocorrem, notabilizando pessoas e locais de cultura. 

Inversamente, a movimentação destes locais de cultura traduz a vida das cidades, estabelecendo uma relação na qual causa e efeito cambiam posições, deixando claro que a morte das cidades significa a morte dos locais de cultura e, na visada inversa, [que] a morte dos locais de cultura significa a morte das cidades. 

Assim, da mesma forma que gera vida, quando morre um local de cultura - seja um parque de exposições, uma galeria de arte, uma livraria, uma biblioteca, um museu, um restaurante, um bar, um teatro, um cinema -, também morre um pouco da cidade que o abriga. Por isso, os locais de cultura devem ser preservados e merecer todo o cuidado das autoridades. Afinal de contas, são eles que dão vida às cidades.

 Atualmente, pedaços do Recife estão morrendo e, dos locais-moribundos, talvez o mais popular seja o Cinema São Luiz - casa com sete décadas de história que, agora, por absoluto descaso do governo de Pernambuco, está com as portas fechadas. Não parece crível que as autoridades da Secretaria Estadual de Cultura e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE) queiram, deliberadamente, matar um dos principais locais de cultura do Recife e de Pernambuco - e, com isso, [matar] um pedaço da capital do Estado. 

Longe de acreditar que as autoridades estaduais estejam orientadas pelo obscurantismo assassino da cultura e da história do Recife, a comunidade cultural do Estado prefere acreditar que o aparente abandono do São Luiz seja uma espécie de ‘freio-de-arrumação’ preparatório de um impulso salvador. 

No fundo, a comunidade cultural espera que o governo estadual recue de qualquer ideia destrutiva e, evitando ser cúmplice dos crimes que matam as cidades, se empenhe na restauração do Cinema São Luiz, recompondo equipe, restaurando mobiliários e modernizando equipamentos, dando, enfim, motivos para que todos acreditem na sinceridade das suas palavras quando se diz preocupado com o futuro do Estado.


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A programação do Canal Arte Agora é exibida no endereço www.youtube.com/c/ArteAgora.
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