domingo, 25 de dezembro de 2022

Os trilhos do absurdo diário * Carlos Santana - RJ

 Os trilhos do absurdo diário

Rio de Janeiro, dezembro 2022

Não há outra forma de iniciar esse texto que não seja dizendo o quanto é impossível não ficar extremamente indignado ao ver a situação pela qual passam os usuários dos trens urbanos do RJ. É a expressão máxima do ataque direto à dignidade e cidadania do cidadão e da cidadã carioca e fluminense.


Parecem notícias repetidas, mas não são: todos os dias os jornais locais mostram que os serviços prestados pela concessionária Supervia humilham centenas de milhares de pessoas que dependem dos trens para virem das localidades mais distantes do Centro da cidade do Rio de Janeiro para iniciar sua rotina de trabalho nos primeiros horários. Trens sucateados, trilhos defasados, cabos que constantemente são roubados e horários que não se cumprem são as formas que a empresa tem de assaltar o trabalhador, levando sua saúde física e psicológica.


O problema se acentua quando temos uma agência reguladora que na maior parte do tempo come na mão dos empresários e acionistas, pouco se importando com a população. E mais: uma imprensa que pouco destaque dá à CPI que finalizou seus trabalhos de investigação sobre os problemas do serviço ferroviário de passageiros com seu relatório aprovado complementa o caos ao qual estão entregues as vidas de homens e mulheres das zonas norte e oeste da capital e também da Baixada Fluminense. Absurdo total!


A concessionária Supervia conseguiu dos cofres públicos que, até o fim de 2022, fossem oferecidos mais de R$ 250 milhões para, segundo ela, cobrir seus prejuízos decorrentes da baixa de usuários durante a pandemia, ameaçando deixar de ofertar o serviço por falta de verba. De praxe, a extorsão dos poder público vindo de grandes empresas concessionárias faz do Estado fonte de recursos a serem sugados quando existem os prejuízos, sem a contrapartida correta de boa prestação de atividade e manutenção de sua qualidade.


Com argumento de que a iniciativa privada supostamente é mais eficiente do que a administração pública, serviços essenciais são sucateados em um processo degradante de suas estruturas para que possam ser vendidos a preço de banana. Caso emblemático e recente, a Cedae virou alvo desse processo e sua venda passou a ser utilizada também como capital eleitoral, de diversas formas. Outro processo de entrega das estruturas públicas à iniciativa privada é o caso do metrô de Belo Horizonte, arrematado por quase R$ 26 milhões por uma única empresa.


É preciso dar um basta nesse vilipêndio, que se inicia com os preços absurdos das passagens dos trens e chega no péssimo serviço prestado, a ponto de a população se revoltar e ser tratada como vândala por querer dignidade. É necessário igualmente que o Estado deixe de ser refém de grandes empresas que usam querem usufruir das estruturas construídas com dinheiro público, mas não querer arcar com os prejuízos das manutenções e com o cumprimento de contratos


Nesse meio, a população é violentada de todas as formas, em seu corpo, sua mente e seu bolso. Cobramos de forma insistente posicionamento enérgico dos deputados e deputadas que participaram da CPI dos trens do RJ, para que cumpram seu dever e, se necessário, lutem até as últimas consequências pela encampação de nossos trens.


A violência diária pela qual passa o trabalhador e a trabalhadora precisa ter fim!  


Carlos Santana 

Ex-deputado federal por cinco mandatos pelo PT-RJ; Presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil; Presidente estadual da CUT-RJ; Professor universitário; Doutor em História pela UFRJ e Bacharel em Direito. 

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