*CEBES MAIS UMA VEZ:
SAÚDE É DEMOCRACIA.
DEMOCRACIA É SAÚDE*
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
Av. Brasil, 4036 – sala 802 - Manguinhos – Rio de
Janeiro/RJ – CEP 21040-361
Tel: 021-3882-9140/9141 - Fax: 021-2260-3782
E-mail: cebes@cebes.org.br
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CEBES MAIS UMA VEZ: SAÚDE É DEMOCRACIA. DEMOCRACIA É
SAÚDE
Faz 42 anos, em plena Ditadura Militar, um grupo de
democratas e patriotas sobreviventes à perseguição fascista se
juntavam ao crescente movimento de resistência ao regime
e fundavam o Cebes – Centro Brasileiro de Estudos de
Saúde. Composto por profissionais de saúde que diante das
assombrosas iniquidades nas condições de vida e saúde
vigentes entenderam que sua superação estava
indissoluvelmente ligada à reconquista e aprofundamento das
liberdades democráticas. O lema fundador do Cebes diz que
Saúde é Democracia e Democracia é Saúde! Ainda havia
restrições sérias à liberdade de organização e expressão,
mas já se antevia ao longe uma luz de restauração de alguns
direitos políticos e sociais básicos. Doze anos se
passaram até que a sociedade brasileira pudesse celebrar um pacto
mínimo na Constituição que abrisse caminho para a construção
de um Brasil mais rico e justo. Alguns passos nesse
rumo foram dados com crescimento econômico, diminuição
das desigualdades, com políticas sociais redistributivas,
com a criação e desenvolvimento do Sistema Único de
Saúde.
Não imaginou aquela geração que passados parcos 25 anos,
as elites conservadoras do país desencadeariam um
intenso processo de desmonte das políticas sociais,
regressão econômica, reestratificação radical da sociedade
brasileira. Menos ainda que cinco anos adiante ressurgiriam
as sombras e ameaças de supressão das liberdades cívicas
e políticas e o ressurgimento embrionário de falanges
fascistas. O ódio e a consequente guerra aos pobres avançou, já
provocando mais de 60 mil assassinatos por ano. O medo
cresceu. As elites endinheiradas já não se sentem seguras em
seus edifícios cercados, com o policiamento de suas ruas
e condomínios entregues a milícias regularizadas sob o nome
de “firmas de segurança”, em seus carros blindados. A
classe média insegura de andar nas ruas, os pobres vítimas das
arbitrariedades do tráfico, das milícias e da polícia. Há
medo por toda a parte. Os jornais televisivos amplificam esse
medo e transformam-se em tribunais arbitrários
estimulando o ódio e o julgamento sumário como antídoto ao medo
que semeiam. Há cada vez mais medo.
Medo e ódio juntam-se para promover soluções radicais e
buscar inimigos fáceis. Um presidente declaradamente
envolvido em escândalos de corrupção, cercado por
ladrões, um congresso degradado, um raivoso discurso da grande
mídia dos seis Berlusconis dos trópicos, um poder
judiciário leniente com o ativismo político de seus membros e uma
corte suprema acovardada legitimam e promovem direta e
indiretamente a busca de soluções autoritárias. O Presidente
do Supremo renomeia a ditadura militar de movimento e
convoca um general como conselheiro ou, quiçá, orientador
de suas decisões. O presidente, desmoralizado, institui
uma Força Tarefa composto por membros das forças armadas
orientado pelo general que já o tem inteiramente em suas
rédeas. Com uma dose de sarcasmo ignorado pelos
Berlusconis, o decreto que define como atribuição da
Força Tarefa o combate ao crime organizado é publicado no
mesmo dia em que o presidente é denunciado pela Polícia
Federal por corrupção orquestrada demonstrada e
documentada. Cresce a tutela das forças armadas. Cresce a
demanda por arbítrio e decisões sumárias. Organizam-se
grupos civis para propagar o medo e o ódio. Empresários
inescrupulosos, seguros da impunidade, contratam firmas
para espalhar nas redes sociais ódio e medo.
Regressão econômica, supressão de direitos,
desmantelamento das políticas sociais, fragilização das instituições de
coesão da nação, privatização desenfreada do patrimônio
público, entrega de reservas estratégicas ao capital
estrangeiro, garantia do monopólio da grande mídia,
ocupação dos espaços de resistência das redes sociais,
criminalização de movimentos sociais, abrem espaço para
medos que haviam sido minimizados. Medo de expressar
opiniões políticas e morais, medo de exercer suas
orientações sexuais, medo de sua fé religiosa, medo do aumento da
truculência policial, medo do predomínio da lei do mais
forte no trânsito, nas discussões esportivas, medo dos
vizinhos. O pior dos medos: medo de não conseguir
resistir, sucumbir, capitular.
As trevas já estão nas ruas. Mas ainda não extinguiram o
brilho da esperança e da luta. Há tempo de contê-las. Há
tempo de vencê-las. É preciso que mulheres e homens de
bem se entreguem incansavelmente com toda sua energia a
bloquear a chegada de noite escura.
O Cebes sabe que sem democracia não haverá saúde. Que
saúde é democracia."